quinta-feira, 23 de junho de 2011

Minha trajetória profissional


Olá, quero compartilhar minha trajetória desde quando eu era apenas a Silvana de Sousa. Hoje sou casada, o que me tornou a Silvana de Sousa e Souza, com muito orgulho, já que o Sousa, herdei de uma família maravilhosa, que tanto me ensinou e contribuiu para a minha formação e o Souza que tive a oportunidade de escolha, não poderia ter me completado melhor, dando a possibilidade de ser mãe de três filhos que só me trazem orgulho. No campo familiar posso afirmar que sou muito realizada. Ainda mais pela convicção de poder contar com o Grandioso Deus em todas as horas.
No campo profissional, atuo na área da Educação. São 19 anos de trabalho nesta área, nos mais variados setores, integrando conquistas e decepções em meu portfólio.  Mas, como brasileira, integro a parcela daqueles que não desistem nunca e, por isto, prefiro compartilhar minhas vitórias e expectativas a minhas frustrações.
Iniciei meu estudo na primeira turma de pré escola, do bairro rural em que morava, o meu querido bairro da Prata, zona rural de Araçatuba onde ainda vive minha mãe. Por coincidência, esta foi a primeira turma em que a professora, a “tia Magali” lecionou e por mais coincidência ainda, eu tinha dificuldades em chamá-la de “tia”, o que na época era obrigatório, já que ela era minha irmã. Esta foi minha primeira inspiração para seguir o caminho da educação.
Os primeiros anos do ensino fundamental, cursei em sala multisseriada neste mesmo bairro. O que poderia ter sido um obstáculo foi mais um incentivo, já que contei com professoras compromissadas, que fizeram com que as dificuldades de trabalhar com várias séries ao mesmo tempo, se revertessem em ganhos aos alunos, o que me alimentou ainda mais minha aspiração de ser professora.
Para cursar os anos finais do ensino fundamental, tive que percorrer 50 km de estrada de terra diariamente, incluindo o trajeto de ida e volta à cidade, o que me obrigava a ficar mais de 8 horas fora de casa, sendo quase 4 dentro do ônibus. Tal situação, a princípio, me causou angústia e cheguei a querer desistir, o que só não ocorreu por muita insistência e incentivo de meus pais, principalmente de meu falecido pai, de inteligência ímpar, mas que só teve a oportunidade de estudar até a 4ª série do ensino fundamental. O sacrifício me fez valorizar muito a oportunidade de estar estudando.
Tive o privilégio de cursar o Ensino Médio no extinto CEFAM (Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério). Lá, ficava o dia todo e por isto durante a semana morava com uma irmã, pois não havia como me deslocar do sítio. A vivência que tive lá inspira até hoje minha prática profissional.
No ano de 1993, recém formada, consegui aulas em uma escola de Educação Infantil chamada Pináculo, onde tive uma turma de pré escola com 4 alunos no período da tarde. Foi uma excelente oportunidade de exercitar o que havia aprendido no CEFAM. Em meados deste mesmo ano, assumi também uma turma de maternal e Arte na escola Minha Infância, a única no período da manhã. Aprendi muito nesta escola.
No final deste mesmo ano, fui convidada pela diretora do Colégio Pináculo a assumir a Coordenação Pedagógica da escola no ano seguinte, e em troca, além do meu salário como professora, ela custearia minha faculdade. O convite me causou um tremendo frio na barriga, já que tinha apenas um ano de experiência na área, mas ao mesmo tempo, foi muito gratificante ter o meu trabalho reconhecido em tão pouco tempo. Como estava prestes a me casar e comprometendo todo o orçamento com a construção de minha casa, a oportunidade de fazer uma faculdade foi fator decisivo para que eu aceitasse o desafio. Fiz então de última hora, a inscrição para o vestibular e, para minha surpresa, dentre os mais de 120 aprovados, obtive o 1º lugar na classificação para o curso de Pedagogia na faculdade Toledo.
Mas como nem tudo é previsível, recebi uma proposta de emprego no Colégio Thathi, por indicação de uma ex professora do CEFAM, a Ivone Baldan. A decisão foi difícil, já que o salário era pouca coisa maior, uma vez que começaria como auxiliar docente, mas por ser uma escola de grande porte, achei que teria mais oportunidade de crescimento e acabei me desligando da escola onde seria coordenadora. Como consequência, deixei de ter a bolsa para fazer a faculdade. Com o casamento prestes a acontecer, a casa por acabar e a aprovação no vestibular, me desdobrei para conciliar financeiramente estas três coisas. Contei com a ajuda de minha mãe, que repartia comigo sua aposentadoria para custear metade da mensalidade. Outras vezes, recorri à compreensão do diretor da faculdade, Antonio Toledo, hoje falecido.
Várias vezes deparei com a sensação de não ter feito a escolha certa, já que deixei de ser coordenadora em uma escola, para me tornar auxiliar docente em outra. O fato de não ter a liberdade para buscar meu próprio caminho e sim de ter que percorrer o caminho estabelecido pelo professor titular, era motivo de grande frustração para mim e por isto, buscando novas oportunidades, prestei um concurso para professor substituto no SESI. No dia da prova, me assustei com a quantidade de pessoas disputando aquela única vaga. As arquibancadas do ginásio de esportes ficaram lotadas de professores que assim como eu buscavam seu crescimento profissional. Era gente demais para uma única vaga, o que me levou a nem procurar saber o resultado. Para minha surpresa, tempo depois, recebi uma ligação oferecendo a tal vaga para mim. Eu havia sido aprovada em 1º lugar!!! Seria uma substituição por um ano. Esta oportunidade foi motivo de muita comemoração. Novamente eu voltaria a trilhar meu próprio caminho, só que com uma diferença: ganhando quatro vezes mais, o que para quem iria casar dentre menos de 1 mês, era providência divina.
Realizei-me trabalhando na educação infantil do SESI. A linha de atuação, o forte investimento na capacitação profissional e o tempo reservado à preparação das aulas dentro da própria jornada de trabalho, me possibilitaram grande crescimento.
Quase um ano depois, em 1995, como meu contrato estava terminando, prestei concurso para professor na Prefeitura Municipal de Araçatuba. Mais de mil pessoas concorreram e novamente Deus me agraciou com o 1º lugar. Nem acreditei quando minha irmã Deise, que também me influenciou para que me tornasse professora, veio em minha casa com o jornal em mãos trazer a notícia!!! Mais uma bênção de Deus para minha vida!
Ingressei na EMEI Mariana Guedes Tibagy, em uma turma de pré 2 no período da manhã. Tive o privilégio de atuar por vários anos com profissionais que enriqueceram muito minha experiência, dentre eles, com a falecida ainda tão jovem, Selma Maria Trevelim de Jesus, que justamente foi homenageada com seu nome batizando a escola do bairro rural de Engenheiro Taveira, nesta cidade.
Continuei no SESI no período da tarde e ao invés do fim de meu contrato conforme estava previsto, acabei sendo efetivada e dando continuidade ao trabalho nestes dois lugares, além de fazer a faculdade à noite. Como sempre gostei muito do que faço, nem sobrava espaço para me sentir cansada.
No SESI, pelo fechamento de turmas na Educação Infantil, em 1997 passei a atuar no Ensino Fundamental na cidade de Birigui. Foi uma experiência muito gratificante, compensando a viagem diária movida pela tensão de dirigir na pista, normal para uma grávida e recém motorista que antes de obter a habilitação foi reprovada por três vezes. Coincidência ou não, o mesmo número de vezes em que até então eu havia sido aprovada em 1º lugar. Tais reprovações me fizeram sentir o gosto amargo do fracasso e em contraste com meu desempenho nos concursos, me fizeram ver também que o que para alguns pode ser algo muito fácil, para outros pode ser muito difícil. Daí a necessidade do respeito às diferentes habilidades, sensibilidade essencial a todo professor. Esta experiência me ajudou muito no exercício de minha profissão, principalmente tendo passado a atuar no ensino fundamental, onde acaba sendo necessário mensurar o desempenho do aluno.
Nas férias de janeiro de 1999, recebi uma ligação da Secretaria de Educação, responsável pela EMEI em que continuava dando aulas, solicitando meu comparecimento com urgência àquele órgão, para falar com a Diretora do Departamento de Educação, Maria Jacinta. Minha reação não poderia ser diferente: O que foi que eu fiz de errado? – passei a me indagar e mais do que depressa fui até lá saber do que se tratava.
Para minha surpresa, era um convite para integrar a equipe responsável pela coordenação do Ensino Fundamental na rede, que acabara de ser implantado. Havia sido indicada pela minha primeira coordenadora no SESI, Maria Helena Carli, que mais tarde veio a falecer e hoje tem seu nome em uma escola do município. Aceitei o convite e conciliei minha atuação no SESI com esta nova função, por cerca de um ano, respondendo pela coordenação da EJA e das disciplinas de História e Geografia. Foi uma experiência muito gratificante.
No ano seguinte, em fevereiro de 2000, tive meu segundo filho e ao findar minha licença gestante, retornei para a sala de aula na rede municipal, ficando designada na EMEI que funcionava na Fundação Mirim, anexada à EMEI Camila Tomashinsky em uma turma de pré escola.
No final deste mesmo ano, me removi para a EMEF Leão Nogueira Filho, passando a atuar no ano seguinte, no Ensino Fundamental tanto no SESI quanto na rede municipal. Nesta nova escola, atuei numa turma de aceleração, onde alunos com defasagem de aprendizagem e multirrepetentes eram reunidos em uma única sala, na época com cerca de 30 alunos. Foi uma experiência muito desgastante e que deixou para mim a convicção de que projetos como estes ao invés de facilitar a aprendizagem, acabam reforçando o estigma do fracasso e concentrando problemas.
No início de 2002 e em minha terceira gravidez, prestei o concurso para diretor de escola da rede municipal e novamente Deus me concedeu o 1º lugar na classificação. A decisão não foi fácil: por um lado, o desejo desta nova experiência, por outro a necessidade de ter de me desligar do SESI, já que a nova jornada de trabalho não mais permitiria acumular os dois empregos. Optei por assumir a direção escolar e com grande peso, me demiti do SESI.
Minha primeira experiência como diretora foi na EMEI Ana Maria Néri Landre, onde permaneci por seis anos e tenho excelentes recordações. A comunidade era bastante participativa e aderiu a vários projetos de melhoria para a escola. A maioria das crianças tinha uma convivência familiar tranquila e gozava das condições básicas para uma sobrevivência saudável. Minha filha deu os primeiros passos no berçário desta escola.
Em 2006 tive a oportunidade de fazer uma pós graduação pela USP em VDCA (Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes). Nesta pós me deparei com inúmeros casos de crianças que diariamente tinham sua dignidade e até suas vidas comprometidas. Meu “consolo” é que tais casos aconteciam “muito longe” de mim. Não via onde aplicar tais conhecimentos na escola em que era gestora. Ainda bem!
Em 2007, resolvi prestar novo concurso para trabalhar no SESI, desta vez no Telecurso, que possibilitaria conciliar com meu atual horário de trabalho, na tentativa de como funcionária, ter oportunidade de matricular meus dois filhos que ainda não estudavam lá, já que sempre admirei o trabalho educacional realizado por esta instituição.
Mais uma vez fui abençoada por Deus. No decorrer dos 2 anos de validade do concurso, uma única vaga surgiu e como fui aprovada em 1º lugar, pude assumi-la e meus filhos hoje estudam na mesma escola em que à noite sou professora. O trabalho no Telecurso é muito gratificante e enriquecedor. Sou responsável pelas aulas de todas as áreas dos anos finais do Ensino Fundamental. Pelo fato dos alunos serem pessoas que buscam resgatar a oportunidade que não tiveram no momento apropriado, valorizam muito a escola. Foi o que me motivou a ficar por quatro anos me deslocando até a cidade de Guararapes toda noite, para as aulas no Telecurso do SESI.
Em 2008, na rede municipal me removi para a EMEB Prof. Lauro Bittencourt, onde permaneço como diretora até hoje. É uma escola com o triplo de alunos da escola em que eu era diretora até então e com inúmeros problemas e desafios, dentre eles, o número elevado de crianças com realidade tão próxima a dos casos que eu havia estudado em minha pós graduação. O que eu imaginava existir apenas em locais muito distantes de mim, passou a fazer parte de minha convivência diária. Entendi então que não foi por acaso que fiz uma pós em uma área que naquele momento tinha tão pouca relação comigo. Nesta nova escola, os conhecimentos adquiridos tornaram-se ferramentas diárias essenciais. Ainda existem inúmeros desafios, mas também contemplo inúmeras intervenções que geraram saldo bastante positivo.
Neste mesmo ano, prestei um concurso para atuar como tutora em uma faculdade de pedagogia com sede presencial na cidade de Piacatu. Apesar da aprovação em 1º lugar, a distância e a necessidade de desligar-me do SESI, fizeram com que eu decidisse não assumir tal vaga, mesmo tendo grande desejo de trabalhar no Ensino Superior.
Em 2010, dada a dificuldade em me locomover para outra cidade todas as noites, bem como à dificuldade em conseguir minha transferência para o SESI de Araçatuba, uma vez que pelos novos critérios, caso surgisse uma vaga no decorrer do ano, esta seria oferecida para quem estivesse ingressando por concurso, não havendo a possibilidade de remoção, resolvi prestar novamente o concurso e fui aprovada mais uma vez em 1º lugar. Em 2011, tive a dupla oportunidade de ser removida para o SESI de Araçatuba, o que foi muito bom, poupando tempo, gasto e o desgaste da viagem diária.
Em 2010, incentivada pelo plano de carreira do município, resolvi fazer uma nova pós. Escolhi a área de tecnologias e EaD, por acreditar muito nesta modalidade de ensino cada vez mais vasta e também pelo incentivo do exemplo de meu pai, que sem ter a oportunidade de estudo presencial, bem antes do meu nascimento, cursou técnico em eletrônica pelo Instituto Monitor, através de correspondência, tendo se tornado excelente profissional na área. Em fevereiro deste ano, conclui esta pós e logo a seguir surgiu a oportunidade de começar outra pós, desta vez pela UFSCAR, em gestão escolar. Embora uma terceira especialização não esteja contemplada no Plano de Carreira do meu município, ela certamente integra meus planos para aperfeiçoamento de minha carreira, principalmente por se tratar da área de gestão, em que atuo diretamente, e por isto, aceitei mais este desafio em minha vida.
Logo que terminei o magistério, não vislumbrava muitas perspectivas para minha vida profissional. O excesso de profissionais na área, dentre outros fatores, dificultavam acreditar que conseguiria ser bem sucedida. Hoje percebo que o tempo todo, Deus esteve a frente de meu caminho e continua me guiando. Apesar dos desafios, sou plenamente realizada com o que faço e pela primeira vez resolvi relatar toda minha trajetória profissional, publicando-a inclusive neste blog, não apenas para cumprir uma das atividades de minha pós, mas também para que minha trajetória possa servir de incentivo àqueles que desejam entrar ou que estão começando a trilhar a carreira da Educação, já que pretendo continuar alimentando este blog. A dica é sempre utilizar o DDD. Dedicação; Determinação e principalmente Deus.




2 comentários:

Marisa Mattos disse...

Isso aqui vai "bombar".Saindo de voce só vai ter material de "prima".Parabéns chefinha!!!!

Grazi Disposti disse...

Vai Bomba mesmo!!!eu adorei os comentários dos alunos ...Eu que explique eles ! risos
Um excelente educador não é um ser humano perfeito, mas alguém que tem a serenidade para se esvaziar e sensibilidade para aprender!
(Augusto Cury)